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quinta-feira, 6 de setembro de 2012

O equipamento não faz diferença. Não é bem assim.

Já ouvi falar muito que a câmera não faz diferença, e sim, o fotógrafo. Mas a coisa não é bem assim. A câmera faz muita diferença, mas realmente só é para melhor na mão de quem sabe aproveitar a câmera, o equipamento, e por vezes as limitações deles. Caso contrário, um equipamento com muitos recursos pode dar resultados piores em mãos inexperientes.

Aqui o panning foi meio por necessidade. Quando fiz a medição vi que o tempo de exposição era longo demais (1/5s) para congelar os movimentos que aconteciam, então decidi pelo panning. Eu estava lidando com a limitação do equipamento, limitação de tempo para reconfigurar a câmera (aumentar o ISO, por exemplo), e mais a situação que acontecia na minha frente. Logo o andor entraria na igreja e terminaria a chance de fotografar o símbolo da procissão. Existia a necessidade de agir rapidamente. A solução foi fazer panning, acompanhar o andor, e fazer a foto. ISO 400, 1/5s, F2.8, câmera Panasonic Lumix FZ28. Acima do ISO 400 o nível de ruído sobe muito nesta câmera.

Filme 35mm

Um exemplo foi Cartier-Bresson, um dos pais do fotojornalismo, do street photography etc. Com as câmeras grandes, que eram complicadas de carregar, pesadas, que chamavam a atenção etc, ele nunca poderia fazer as fotos que fez. Nem Robert Capa teria feito as fotos de guerra que fez, pois não dá para carregar uma câmera de grande formato no meio de um combate. As câmeras com filme de 35mm possibilitaram esta revolução na fotografia.

Mas não adiantaria só a câmera sem estes fabulosos fotógrafos para saber usá-las tão bem, explorar suas possibilidades. O filme de 35mm e as câmeras para este tipo de filme, uma revolução iniciada pela Leica, possibilitaram que eles fizessem este tipo de trabalho, mas foi a criatividade, a coragem, a capacidade, a competência deles etc, que os tornaram grandes fotógrafos. O resultado foi a combinação do talento deles, com um equipamento que permitiu explorar este talento.

Pin Hole

Dificilmente deve existir uma câmera/técnica mais limitada do que a Pin Hole. Elas são câmeras feitas de caixas, latas etc, com papel fotográfico de um lado e minúsculo furo do outro. Os tempos de exposição são muito longos, chegando a meia hora sem grandes dificuldades.

Mas para que serve uma técnica tão limitada? Ela produz belas imagens em preto e branco de paisagens estáticas, fazendo desaparecer as pessoas que por ela passam, e com uma profundidade de campo muito muito muito grande (Desde perto da câmera até o infinito.).

Existem fotógrafos especializados nesta técnica, que produzem belas imagens com ela. Conheço um em Paraty.

Esta técnica exige paciência, ter uma ideia do resultado que vai ter, saber fazer o processamento químico etc. De certa forma, a limitação dela é o charme dela.

Câmeras de grande formato com fole

Este tipo de câmera permite que a lente seja tirada da posição perpendicular em relação ao filme. No blog Queimando o Filme tem um artigo justamente sobre elas.

Quando a lente é "tirada do eixo" causa uma inclinação do campo do foco, podendo fazer com que parte de um objeto e parte do fundo atrás deste objeto estejam em foco, e o resto do objeto e do fundo fiquem desfocados. Isto também permite correções de perspectivas.

A simplicidade típica destas câmeras exige que o fotógrafo saiba o que está fazendo. Não existe eletrônica nas câmeras, autofoco etc, para ajudar. Elas produzem fotos em filmes de 4x5 polegadas, ou de 8x10 polegadas, dependendo do modelo da câmera, gerando imagens de muito alta qualidade. Existem digitalizadores que podem ser colocados no lugar do filme, gerando imagens digitais de alta resolução.

Esta câmera não servem para fotos que tenham que ser feitas muito rapidamente. São grandes, pesadas, não simples de operar etc. Mas dá um controle que nenhuma câmera moderna dá facilmente. Algumas lentes com correção de perspectiva dão um controle parcial do que uma câmera de médio formato destas é capaz de fazer, mas só parcial.

Uma câmera destas em mãos habilidosas pode gerar imagens sensacionais. Quem tem explorado bem este aspecto de foco seletivo é o fotógrafo Claudio Edinger. Algumas outras fotos deste trabalho podem ser encontradas neste artigo da Veja.

Digitalizadores para grande formato

Os digitalizadores mencionados acima para câmera de grande formato também tem suas limitações. Enquanto com o filme pode-se fazer uma exposição de toda a cena de uma vez, tal como também se pode fazer com as câmeras digitais normais, os digitalizadores para câmeras de grande formato se parecem mais com um scanner de mesa, com uma cabeça de leitura em forma de linha que se move varrendo a cena. Então o obturador da lente (Estas câmeras usam obturador na lente, e não perto do filme.) fica aberto por toda o tempo no qual o carro do scanner se move atrás da câmera, percorrendo pelo lugar onde fica o filme.

Já deu para perceber que nada pode se mover enquanto está fazendo a varredura, senão fica deformado, pois parte de um objeto é digitalizado em um momento, outra parte em outro e assim por diante. E por que não tirar vantagem disto? Sim, eu vi uma coleção de belas imagens (que não consegui achar nas pesquisas para fazer este artigo) criadas usando esta limitação do scanner. Eram imagens distorcidas de objetos e cenas, pois se moveram, giraram etc, durante o processo de digitalização.

Celulares

Alguns celulares tem câmeras razoáveis, mas extremamente limitadas. Eu falo que são câmeras quebra galho. As lentes são sempre grande angulares, frequentemente com distorções, sofrem facilmente com flare e luzes que as atinjam, etc. Mas podem ser interessantes para fazer street photography, para fotografar furtivamente, sem ser percebido etc.

O meu celular, que tem uma câmera de 3.1 Mp, tem um defeito gravíssimo e muito irritante. Ele faz um CLIIIIKKKKKKK muito alto e irritante, acho que mais alto do que o da minha D90, e não achei como desligar (pelo menos ainda). Acho que foi proposital para ninguém fazer fotos furtivas. Foi feito para acordar aquele amigo bêbado, que apagou babando no sofá abraçando a garrafa de cachaça, que você quer fotografar e colocar nas redes sociais para todo mundo zuar. Mas uma vez no metrô usei a campainha da porta camuflar o som dele durante uma foto.

Mas a câmera limitada de celular, e uma forma imaginativa de tratar as imagens, deram ao fotógrafo Paulo Arias o Prix de La Photographie Paris 2012 na categoria Altered Images - Fine Art.

Câmeras com o mesmo sensor

Muitos fabricantes, entre eles a Nikon, lançam mais de um modelo de câmera usando o mesmo sensor. As Nikons D90 e D5000 usam o mesmo modelo de sensor, tal como a D5100 e a D7000 compartilham o mesmo modelo de sensor.

Então qual é a diferença entre a D5000 e a D90, ou entre a D5100 e a D7000? Para um leigo, que sempre vai usar no automático e nunca vai comprar uma outra lente, comprar uma D90 ou uma D7000 é gastar mais dinheiro para ter recursos que nunca vai usar. Também é mais botão para se atrapalhar.

Leigos ficariam mais felizes com a D5000 ou a D5100, que são mais simples, mais baratas, mais leves etc.

Alguém experiente pode fazer fotos melhores com estas câmeras mais simples do que um leigo faria, mas pode sentir falta de recursos, e dos acessos rápidos dados pelos botões a mais, que a D90 e a D7000 tem. As câmeras com mais botões tem acesso mais rápido aos recursos importantes. A primeira coisa que me acontece quando pego uma destas DSLRs mais simples é procurar com o dedo a "rodinha da frente", que elas não tem, mas a minha D90 tem.

Muitos leigos, na realidade, poderia até ficar mais felizes com câmeras Ultra Zoom, por serem mais leves, mais baratas, tendo mais zoom etc.

Aqui equipamento pode fazer diferença, mas não exatamente na qualidade da foto, mas principalmente na satisfação de quem a usa.

Omissões

Sei que omiti muitos casos, muitos tipos de câmeras, muitas situações, mas acho que já passei a ideia. O espaço dos comentários está aberto para discussões.

A câmera faz diferença?

A câmera é ferramenta, e faz diferença, mas realmente só é para melhor nas mãos de quem sabe usar esta diferença, nas mãos de quem sabe explorar as diferenças e as limitações.

Claro que quem sabe a técnica, quem tem imaginação etc, quem é capacitado, pode fazer fotos melhores inclusive com "equipamentos inferiores" ou "menos adequados" (Em muitas situações até o conceito de inferior e/ou inadequado é discutível.), mas um equipamento melhor e/ou mais adequado ajuda.

Para completar, sugiro a leitura do meu artigo Ultra Zoom e DSLR, como fazem parte da minha vida.

2 comentários:

  1. Excelente texto, João. É como se diz: Sebastião Salgado ou Araquem Alcântara por certo fariam grandes fotos usando um celular vagabundo, mas as imagens excelentes que eles publicam dependem, sem dúvida alguma, de ótimas máquinas, objetivas muito nítidas e claras e de uma série de equipamentos de qualidade.
    Ótima quinta para você.

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  2. Concordo plenamente! A câmera e o fotógrafo formam uma dupla que, quando trabalha em harmonia, pode produzir ótimos resultados. Mas quanto melhores forem os recursos da primeira e/ou mais capacitado e habilidoso for o segundo, melhores ainda serão as imagens obtidas pela dupla...
    Abçs!

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