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domingo, 8 de janeiro de 2017

Em busca da imagem perfeita

Muitas vezes as pessoas veem uma foto, uma imagem, e acham linda, mas não fazem ideia do trabalho que tem por trás dela. É um pouco disto que vou contar aqui, não mencionando os anos de estudo por trás que me tornaram capaz de ver e resolver estes problemas.

Estou a dias fazendo a edição de um HDR. Ele é uma nova versão de uma outra imagem minha que chegou a ser razoavelmente conhecida anos atrás. Mas esta versão tem a decoração de natal da Igreja Matriz de Paraty.

Achei alguns problemas no processo. Alguns são os mesmos que achei numa outra que publiquei recentemente, e alguns outros são novos.

Fiz dois conjuntos de capturas, usando passos diferentes, mas cometi o mesmo erro nos dois conjuntos, a falta de imagens superexpostas. Deveria ter feito mais algumas com mais superexosição para representar bem as áreas mal iluminadas.

Acho que não levei em conta a Lua Nova, creio eu. Quando a Lua está cheia existe uma luz extra que ilumina praticamente tudo, inclusive algumas coisas que ficam praticamente fora do alcance da iluminação artificial. Mas na Lua Nova não existe tal luz.

Para contornar, tive que usar toda a faixa dinâmica das capturas. A ponderação por imagem não pode ser dando prioridade para a faixa central, ou a superior, mas teve que usar igualmente toda a faixa dinâmica de cada uma das capturas. O problema disto é que o ruído não é descartado eficientemente. Ele passa a fazer parte de forma bem evidente da imagem.

Outro problema é que tinham barcos na cena, que, mesmo atracados, se movem. Eu precisava que eles não se movessem nem durante uma captura, nem entre as capturas. Aí entra um outro truque. Fazer as fotos em uma maré bem baixa, o que acontece em alguns horários nos períodos de Lua Cheia e de Lua Nova. Nestas marés, dependendo das condições do local, os barcos encalham e não se movem. Mas a maré devia estar subindo, pois nas últimas duas capturas alguns barcos, justamente os mais próximos, começaram a se mover. Isto inutilizou algumas das imagens mais importantes do segundo conjunto de capturas. Agora só tinha um conjunto para trabalhar.

Eu peguei o hábito, para ter mais controle, pré-processar uma das capturas, e depois pré-processar as outras copiando os parâmetros estipulados nela. Depois é que eu faço a fusão entre as imagens, o mapeamento de tons etc.

Assim gerei a imagem abaixo:


Mesmo não sendo possível ver aqui, a imagem de tamanho original estava muito ruidosa. Via-se muitos pontinhos coloridos, especialmente no céu.

A solução foi pegar as imagens menos expostas, as que teriam os maiores multiplicadores na ponderação, e reduzir o ruído delas. Peguei as duas menos expostas e reeditei aplicando uma forte redução de ruído. Sabia que, por elas só conterem coisas bem claras, que não eram muito detalhadas na imagem, a redução de ruído não iria afetar a qualidade final do trabalho.

O resultado foi o abaixo:


Os pontos coloridos reduziram drasticamente.

Como não dá para ver neste tamanho, abaixo vão os cortes das imagens:



Um problema para fazer as capturas foi a cidade cheia. Paraty estava cheia de turistas, e cheia de carros. E um carro resolve acender o farol se mover justamente na hora que estava fazendo as capturas, afetando 3 delas.

Só percebi isto na edição. O detalhe está abaixo:


Eu poderia apelar para as imagens do outro conjunto de capturas, mas calha justamente nas que os barcos estavam se movendo.

Resolvi apelar, e editar as capturas e refazer a fusão e o mapeamento de tons.

Editei duas das imagens e refiz o processo. O resultado está abaixo:


Melhorou, mas ainda ficou ruim. Como pode ver no detalhe abaixo:


Editei a terceira, para retirar de vez o farol.


Não ficou perfeito, mas melhorou muito.


Tiveram outros carros se movendo, o que atrapalhou, mas este, saindo da vaga de estacionamento, foi o pior deles. Ele me chamava a atenção, me incomodava.

Mas outra ideia ficou ecoando na minha cabeça. Talvez seja possível usar as imagens do conjunto no qual os barcos se moveram. Talvez se cortar, isto é, apagar os barcos que se moveram, e apagar a área do carro, nas outras capturas, eu posso ter um resultado melhor.

Então fiz duas tentativas. Só apagando a área imediata do carro, e outra apagando um retângulo bem maior.


Em destaque a área do carro.


Ainda está com manchas estranhas.

Então resolvi apagar um retângulo grande:


Notei uma diferença, que eu deveria ter pensado melhor, e até tinha chegado a pensar, mas não o suficiente. A área iluminada nos barcos pelo carro.

No detalhe verá melhor.


Os faróis do carro que saía da vaga estavam iluminando o barco, que neste corte, aparece no canto inferior direito.

A imagem ficou melhor com este último trabalho, mas não está perfeito. Tem umas manchas que ainda não tinha identificado a origem. Comecei a pensar de novo, e resolvi ver a última foto do conjunto de exposições. Ela estava nesta última exposição. Era a área iluminada pelo farol do carro que saiu da vaga. Ele ainda estava parado por perto.

Olhando melhor as imagens notei que a parte escura das manchas era o toldo do barco, e algumas manchas eram causadas pelo carro, que saiu da vaga e ficou parado iluminando uma pequena parte da cena.

Então, para ficar perfeito, eu teria que recomeçar todo o trabalho, usando um conjunto de imagens do segundo conjunto de exposições, e um conjunto do primeiro, que iriam definir melhor esta iluminação do carro. E no processo teria que apagar os barcos no segundo conjunto, que já fiz.

Acho que vou parar por aqui, por enquanto. Vou assumir que está bom o suficiente.

Conclusões

Num processamento anterior de um HDR, que mostro abaixo, aprendi alguns truques. Fiz algumas coisas pela primeira vez. Neste aprendi e testei outras coisas, fiz mais algumas coisas pela primeira vez. Acho que estou evoluindo, fazendo coisas cada vez mais complexas.


Uma lição se tira, ou se confirma, deste trabalho todo. Sempre, a captura das imagens, as exposições, é a etapa mais importante do HDR. Quanto melhor for esta captura, menos trabalho e menos problemas terá depois, e melhor será o resultado. A edição pode ser feita a qualquer hora, em qualquer dia, e refeita sempre que quiser, mas captura não.

E outra coisa. Sempre deve se aprender com os erros. Não se deve ficar se lamentando, ou simplesmente ignorá-los. Não adianta. Tem que se admitir que os cometeu e buscar soluções, buscar corrigir os seus erros e aprender com eles. A busca por corrigi-los já lhe faz aprender algumas coisas.

Quando se vê uma imagem, ou qualquer tipo de trabalho, normalmente não se tem ideia do que está por trás dele, do esforço, dos estudos, dos erros, dos acertos etc. Nunca assuma como algo sendo fácil se você mesmo não o fez. E o que pode ser complicado para um, pode ser fácil para outro, e impossível para algum outro. (E para você, o que este trabalho seria? Pode deixar nos comentários.)

Ao todo, devo ter empregado mais de 20 horas de trabalho com esta imagem, nos quais aprendi e experimentei coisas novas, então não foram desperdício de tempo.

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